sexta-feira, 14 de setembro de 2018

Aquela Senhora.


Quando eu era criança conheci uma senhora, ela era sorridente e graciosa, sempre com um sorriso no rosto e um jeito otimista era aquela senhora.


Eu não entendia muito bem as coisas, mas aquela senhora me ajudou a entender muitas coisas, tais como não tomar banho quente e sair na friagem, não falar de boca cheia, não mastigar de boca aberta, me fez entender a importância de escovar os dentes e de não andar descalço.


Nossa, como aquela senhora pegava no meu pé...

Afinal ela não era minha mãe, e tudo que ela me dizia minha mãe já tinha dito.

Então às vezes era muito chato ouvir a mesma coisa duas vezes, e na maioria das vezes eu nem ouvia nem uma das duas, e com isso eu sempre me dava mal, me machucava e nesse momento aquela senhora estava lá pra me levantar cuidar das minhas feridas e de uma maneira especial me fazer ver as consequências da minha rebeldia.


Quando as coisas ficavam feias na minha casa eu corria para casa dela e ela me acolhia e me protegia.

Quando eu estava triste ela inventava brincadeiras e meios para me animar, aquela senhora não desistia de mim.

Como ela morava próximo da minha casa eu ia visitá-la todos os dias e se eu não aparecia ela ia até mim.


Ela nunca disse que me amava, pois estava sempre ocupada demonstrando isso.

Um fato que me marcou muito e que eu não vou esquecer nunca ocorreu quando um dia cheguei da escola por volta das 12:40 e não havia ninguém em casa, nem minha mãe nem meus irmãos, ninguém.


Perguntei para o vizinho e ele me disse que uma das minhas tias havia levado todos para a praia, sabendo disso sentei na calçada na frente de casa e comecei a chorar.

Então a senhora chegou e logo veio me acalmar e saber o motivo da minha tristeza, então contei a ela e ela me disse que eu não tinha sido abandonado, eles só estavam atrasados mais logo iam chegar.


Então eu disse a ela que não era o fato de ter ficado sozinho que me deixava triste, e sim o fato de não terem me levado para ver o mar, pois eu nunca tinha visto pessoalmente, só pela televisão.

Então ela pensou por alguns segundos e disse que ela ia me levar naquele momento para ver o mar, meu coração se encheu de alegria e de empolgação, esperei ela ir até a casa dela se arrumar, então fomos para o ponto de ônibus e assim fomos ver o mar.


A viagem era meio longa mais finalmente chegamos eu estava super feliz e muito eufórico, estava frio e ventando um pouco mais me lembro de chegar à beira de um píer e sentir a brisa do mar batendo no meu rosto e sentir aquele cheiro forte de sal, então perguntei a ela que cheiro era aquele e ela me disse que era o cheiro da maresia.


Ela se sentou e eu fiquei correndo pela praia olhando as ondas quebrarem e catando conchinhas e sentindo a areia pela primeira vez nos meus pés, quando me afastava demais ela me gritava então eu voltava para mais próximo dela, eu estava abobalhado com tudo aquilo.

Como já era tarde eu estava com fome então falei para ela, então fomos para uma praça onde havia uma padaria próxima, fiquei no banco olhando o mar e ela foi até lá, quando voltou me trouxe um salgado e um suco, eu comi e ela ficou me olhando.

Comi e assim que terminei ela me disse que tínhamos que ir embora, ela me deixou em casa e conversou com a minha mãe, fui dormir naquele dia com uma alegria muito grande e a felicidade que não cabia no peito.


Nesse momento você deve estar se perguntando o que tem demais nisso uma senhora levar uma criança para ver o mar pela primeira vez né?

Sim meus queridos, até mesmo eu pensava assim mais depois de um bom tempo quando eu já era mais crescido e entendido da vida descobri algumas coisas sobre aquela senhora que partiu meu coração.

Descobri que ela vivia de caridades, os filhos faziam compras e levava algumas coisas pra ela, ela não tinha nenhuma fonte de renda, às vezes um dos filhos deixava algum dinheiro pra ela caso ocorresse alguma eventualidade, ou seja ela era bem simples e carente, não faltava nada pra ela mais ela não tinha luxo nem fartura.


Com isso meu coração se cortou ao meio quando descobri que naquele dia que fomos à praia ela havia pedido carona ao motorista de ônibus para nos levar, e quando fiquei com fome ela também pediu na padaria alguma coisa pra mim comer, e assim ela só conseguiu lanche pra mim e não pra ela.

Ao irmos embora foi do mesmo jeito que vinhemos na carona, eu era muito jovem pra ver essas coisas e além do mais eu estava extasiado com tanta alegria e felicidade pra perceber.

Sendo assim aquela senhora sem ter nenhuma moeda no bolso me apresentou o mar, aquela senhora me mostrou que para fazer alguém feliz só basta ter força de vontade e atitude.

Aquela senhora com isso e com muitas outras atitudes me ajudou a ser uma pessoa boa e a  prezar a integridade e humildade.


Aquela senhora foi minha heroína, minha melhor amiga.

Sinto muito por ela não ter conseguido ver a pessoa que me tornei, ver que os esforços dela deram resultados positivos, sinto muito por não poder ter agradecido o bastante por tudo que ela me fez, sinto muito a falta dela.

Aquela senhora que sem ter nada me deu muitas coisas, coisas que dinheiro nenhum no mundo vai poder comprar, sei que ela sabia que eu a amava, mas eu queria voltar no tempo e dizer a ela dando um abraço apertado.

Aquela senhora que eu tive o grande prazer e privilégio de conhecer, conviver e chamar de vó.


 Que a memória da sua existência rompa a eternidade, minha querida e amada vó Nanci.



Esquerda: Minha vó Nanci
Centro: Eu
Direita: Meu irmão Yago.
Foi nessa época que ocorreu o passeio a praia. 

                                                                                                     Thiago Santos.

Raizes - Entre o Sim e o Não!

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